Uma Retoma da Normalidade

09-12-2020
As primeiras escolhas da futura Administração norte americana já começaram a ser anunciadas, dando-nos uma oportunidade de analisar o próximo "staff" da Casa Branca e dos departamentos de Biden, que prometera ser uma equipa diversificada que espelhasse a América.
Quebrando um comportamento do seu, ainda iludido, antecessor, Biden não nomeou qualquer membro da sua família nem qualquer indivíduo sem uma sólida carreira nas áreas que irão exercer, uma clara diferença entre os dois mais recentes presidentes.
Algo é certo, desde já, antes do início do mandato de Biden: a presidência "reality show" chegou ao seu termino. A América escolheu um presidente que sempre visara retornar à normalidade política nos EUA, e esta estabilidade prometida foi a vencedora das eleições contra uma incumbência repleta de dramas e controvérsias. A escolha de Ron Klain para chefe de gabinete não foi ao acaso. Durante a administração Obama este tivera sido responsável pela gestão do vírus Ébola, assim como pelo programa de estímulos. Klain tem boas relações em Capitol Hill, algo que será fulcral para Biden caso os democratas sejam incapazes de ganhar as duas corridas no senado da Geórgia. Se ganharem, alcançarão uma maioria de 50/50 lugares visto que a Vice-Presidente tem o poder de desempatar caso algum voto alcance um empate, algo bastante comum na atual política americana. Uma experiência em crises pandémicas, e um vasto reconhecimento em todas as alas do partido democrata será claramente uma vantagem para o presidente eleito.
Anthony Blinken, caso venha a ser confirmado pelo senado americano, será o novo responsável pelo departamento de Estado dos EUA, e pelas relações diplomáticas no estrangeiro. Trata-se de uma pessoa com uma vasta experiência dentro do departamento e com duradouras relações com o presidente eleito. É também um moderado, algo comum a várias nomeações de Biden, todos se encontram no centro do espetro político e são pessoas que a ambos os lados agradam.
Jake Sullivan, antigo conselheiro de Segurança Nacional na Vice-Presidência de Biden e um grande engenheiro nas políticas durante a campanha de Biden, da Administração Obama e mesmo da equipa da ex-candidata Hillary Clinton, será o Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente. Considerado um génio na área tendo em conta a sua idade e experiência e, sem dúvida, será um excelente apoio para a concretização da estratégia da política externa de Biden.
John Kerry volta de novo para o spotlight com a criação de um novo cargo na força contra o combate das alterações climáticas, o antigo Secretário de Estado, principal responsável pelos acordos de Paris, retorna à presidência norte americana como o enviado especial para o clima, enfatizando a importância e a grave urgência de encontrar soluções a curto prazo para revelarem efeitos a longo prazo.
No entanto, apesar de todos os cargos já mencionados anteriormente serem relevantes e representerem uma potência administrativa muito pesada, nada se compara ao poder que Janet Yellen traz no que toca ao sucesso da administração. Yellen será a primeira Secretária da Tesouraria, Presidente do Conselho de Economia e Presidente da Reserva Federal dos EUA. Tendo em conta a polaridade da política atual norte americana, Yellen revela ser a melhor candidata para o cargo, possuíndo confiança não só nos democratas, mas também nos republicanos, assim como nos próprios economistas, uma das melhores escolhas do Presidente até agora, recebendo até o apoio pessoal de uma possível candidata e ex-candidata presidencial Elizabeth Warren, um feito que possivelmente só Yellen conseguiria alcançar.
Pela primeira vez na história da presidência dos EUA, a equipa de comunicações da Casa Branca será composta apenas por mulheres, uma vitória para muitos ativistas. No entanto, é necessário apontar que além das escolhas de Biden revelarem uma grande afinidade a membros dentro dos núcleos duros de Obama, e até de Clinton, uma característica da política de Joe Biden é nomear e revelar importância a pessoas que já provaram lealdade ao seu círculo político e ao próprio Presidente no passado. Curioso notar que a ideia de que Biden seria um cavalo de troia para os radicais de esquerda entrarem nos cargos mais importantes da sua administração caiu por terra, tal não aconteceu, como o antigo candidato tinha afirmado mais do que uma vez ao longo da campanha.


Embora Biden tenha adquirido um claro mandato, com 306 votos do colégio eleitoral e mais de 80 milhões de votos, não podemos ignorar que Trump foi o segundo candidato a adquirir mais votos na história dos EUA, a sua omnipresença será constante e difícil de evitar no partido republicano. A grande questão a que só o futuro irá responder é se o futuro ex-presidente irá prejudicar ou beneficiar o partido a longo prazo. Contudo, sem dúvidas, seja o bocejo americano de alívio ou de aborrecimento, é certo dizer que a América está dividida, e este será um dos maiores desafios de Biden, a pessoa que afirma ser o Presidente da união das duas fações. Veremos se tal revelará verdade. 

 

Francisco Peixeiro

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