Será que realmente escolhemos as nossas escolhas?

15-12-2020

Será que realmente escolhemos nossas escolhas?

Nas últimas eleições presidenciais de diversos países vimos novas maneiras de campanhas eleitorais a aparecer, como um crescente uso das redes sociais. A maioria dos que usaram estes novos meios de comunicação com a massa levaram os seus candidatos a vitória. Vemos dois casos específicos como o de Bolsonaro no Brasil em 2018, e Donald Trump nos Estados Unidos em 2016.

Em 2017, foi a primeira vez em que nos deparamos com o que viria ser o futuro das campanhas eleitorais e manipulação da massa. Os políticos deram-se conta de que para chegar aos ouvidos dos seus milhares de eleitores não era preciso ir às ruas distribuir panfletos, nem mesmo às estações de rádio ou televisão, acabando por investir milhões. Era muito mais simples, deveriam apenas introduzir-se num aparelho que existe no bolso de cada um de nós: o nosso telemóvel. Perceberam que o maior ouro atualmente são os nossos dados pessoais. E não existe melhor forma possível de encontrá-los, entendê-los, dominá-los e de maneira barata, sem ser através da internet.

Para conseguir manejar todo este novo meio de comunicação com milhares eleitores, entra em jogo o marketing político, que segundo a autora Dilma Teixeira (2006) no seu livro "Marketing Político e Eleitoral. Uma proposta com ética e eficiência" classifica como: "um conjunto de técnicas e procedimentos que procuram adequar um candidato ao seu eleitorado potencial, procurando torná-lo conhecido do maior número de eleitores possível". A maneira mais eficaz de alcançar o maior número de pessoas é dominar um mundo em que todas elas se encontram no mesmo terreno e na mesma hora, sem ter de viajar. Quer isto dizer, dominar o mundo das redes sociais.

Escolher o seu eleitorado alvo e deixar uma única imagem para o maior número de eleitores é o maior desafio encarando pela maioria dos políticos. Mas nenhum viveu num século onde todas as informações, pensamentos e ideais dos seus eleitores estão a um clique de distância. Foi assim que a empresa Cambrige Analitycs, criada em 2014, começou a juntar o útil com o agradável. Juntou o aplicativo mais usado do mundo, o Facebook, e buscou assim a sua fonte de indução psicológica da massa.

Através das redes sociais a empresa entra num mundo que consegue ter contacto com o seu público alvo, manipulá-lo e entender os seus pensamentos em segundos. Isso passa agora a não ser mais um desafio. Agora a prioridade passa a compreender os pensamentos das pessoas e depois assim influenciá-los.

De uma maneira muito mais barata do que qualquer outro usado antes, identificar grupos de pessoas militantes quando se tem acesso as suas redes sociais, é algo agora considerado muito fácil. Colocamos diariamente as nossas vidas em exposição, mostrando as nossas opiniões, escolhas e pensamentos. Sem pensar que muitas empresas se aproveitam disso, incluindo principalmente, os políticos.

Mas como tudo que é bom dura pouco, a empresa Cambridge Analityca usou instrumentos psicológicos para influenciar os eleitores, ou seja, fez com que estes mudassem de opinião. Como Christopher Wylie, ex-trabalhador da empresa, numa entrevista para um curta no YouTube chamado "What is the Cambridge Analytica Scandal?" afirmou que primeiramente eram identificados os grupos de militantes na rede, identificado os seus pensamentos e ideologias. Depois, assim, entendendo qual seria o tipo de mensagem que seria suscetível, quem iria consumi-la e quantas vezes esta mensagem deveria ser passada para influenciar ou até mesmo mudar a opinião de alguém. O próprio Christopher chama este processo de uma "full servisse propaganda machine". Foi assim que em 2018, aconteceu o famoso escândalo envolvendo esta empresa. Pois, esta influenciava e "roubava" dados dos utilizadores do Facebook sem a sua permissão.

Mas paramos para pensar, será mesmo que é apenas a Cambridge Analityca que faz isso? Somos influenciados diariamente por propagandas e discursos políticos. Será que pensamos por nós mesmos? Será que nossas decisões, principalmente políticas, não foram manipuladas? Quando começamos a nos fazer estes tipos de perguntas, percebemos que o marketing político e a manipulação psicológica está mais integrado no nosso dia-a-dia do que podemos imaginar.


Júlia Pozzolo  

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