Educação digital: Uma moeda de duas faces
Com o início de mais um ano letivo, desejam-se mudanças, espera-se desenvolvimento, espera-se respostas às preces de 2020, espera-se também não cometer os erros passados devido à inexperiência ou pelo simples facto de sermos tomados pela inércia e deixarmos tudo para o dia seguinte. Parece que uma destas duas hipóteses traduz o que aconteceu com o ensino digital quando este foi aplicado em março de 2020 nas escolas e universidades de todo o país, mas estamos em 2021 e hoje até podíamos ter motivos para crer que tudo viria a ser diferente, e a verdade é que isso está longe de acontecer, afinal ano novo não é vida nova.
No plano prático, o governo através das suas políticas públicas vai respondendo às necessidades que todos os dias surgem (acabando por juntar às demais que estão ainda pendentes) na pasta do governo, em especial na do ministro da educação, Tiago Brandão Rodrigues.
Como foi mencionado anteriormente, têm havido muitas promessas e quais as medidas em concreto? Passo a referir algumas delas: a compra e a respetiva distribuição de cerca 335 mil computadores ao longo deste arranque das aulas, assim como de outros 15 mil sem data ainda à vista para chegarem a casa destas famílias, e ainda os 100 mil já então comprados e entregues em novembro do ano passado (tendo sido distribuídos numa primeira fase aos alunos com o Apoio Social Escolar.
É importante referir ainda a aposta que houve na educação digital e na formação desta e que levou à criação do Plano de Ação para a Transição Digital (isto a nível nacional) e também do Plano de Ação para a Educação Digital 2021-2027 (a nível europeu), onde ambos procuram fomentar uma educação digital de qualidade, inclusiva e acessível para os seus utilizadores.
A inclusão está ainda interligada não só com a qualidade dos equipamentos tecnológicos (referidos nos dois planos acima apresentados) como na acessibilidade de obtenção destes, sendo que não nos podemos esquecer que revela também a outra faceta desta moeda, ou seja, as desigualdades sociais e regionais que se vão agravando ao longo de todo o território nacional. A existência destas mesmas desigualdades seja de que cariz forem, além de serem inegáveis devem ser progressivamente combatidas e não apenas relembradas ou usadas como slogans em campanhas eleitorais.
Mesmo com a aplicação destas ferramentas digitais, convém deixar explícito que o ensino totalmente digital não dispensa, jamais os professores, a relação pedagógica que estes criam com os seus alunos, no bem-estar que estes sentem ao estarem nas salas de aula, transformando-se não só em motivação para uns como para outros esta acaba por tornar-se numa oportunidade de estreitarem laços sociais entre colegas e professores. É este o resultado que o ambiente escolar traz para a formação e crescimento destes alunos, desta geração do amanhã.
Posto isto, um dos encargos que o aparelho estatal deve ter, é em assegurar a universalidade e gratuidade do ensino (neste caso digital) como deve garantir que todas as famílias estão a ter as mesmas oportunidades, as suas demandas (inputs) ou necessidades respondidas.
Concluo ainda que o arranque das aulas veio mostrar que esta não se tornou na tão desejada solução que tanto os docentes e os alunos aguardavam desde o ano passado e sim uma réplica ainda em construção.
Duarte Ferreira